Em manutenção

16 Abr

Por motivos alheios à nossa vontade o Standard’s & People, Pá! encontra-se em fase de manutenção. Assim que possível retomaremos a programação.

Custos de Contexto

27 Dez

Em cada português há um treinador de bancada, um economista, meio fadista e um resmungão completo. Sejamos todavia justos: a malta tem razões para se queixar. Se não fosse por conta do governo, seria por conta do tempo, da chuva, do frio, do calor a mais, qualquer coisa. Haverá estudos que demonstram esta fatalidade. Sobre o assunto, existe já uma entrada devidamente informada neste blogue. Deixem-me, ainda assim, ser um pseudo economista por uns minutos.

Várias vezes somos remetidos para os chamados custos de contexto. Estes constam de elementos que prejudicam a atividade das empresas e que não são responsabilidade do investidor, não podendo ser imputáveis ao seu negócio e à sua organização. Falamos, por isso, de ações não razoáveis ou atos desproporcionadas, de opções políticas anticompetitivas, ou até de condições relativas à fase de desenvolvimento (!) da economia portuguesa. Porque é que eu gosto deste conceito? Meus amigos: cabe todo um país aqui dentro, é o nosso espelho, caramba!

Vejamos. Parte prática. Alguém que quer abrir um negócio e espera eternamente por um licenciamento – custo de contexto! É do que se trata. Mas há mais. A um nível mais alargado: alguém reconhece a existência de um mercado em Portugal? Concorrência? Quem já ouviu falar de entidades reguladoras? E quem já ouviu falar de viver à sombra do Estado? Seguindo a definição, isso é contexto, contexto para o qual alguns operadores, digamos, estarão mais aptos, sendo que ainda não há como fugir. A partir do clientelismo, do compadrio, pela promiscuidade entre público e privado, também se aumenta o endividamento do Estado, tem sido essa parte da receita do desastre e o “Zé” fica com menos no bolso a cada mês. Nalguns setores, como está documentado, estes custos de contexto são aberrantes (e.g. energia).

Qual o ponto? Além da redução destes custos, que de uma forma ou de outra acabam por ser suportados pelo “Zé”, já que naturalmente as empresas transferem-nos, deverá ser feita uma adaptação deste próprio conceito para cidadãos individuais e não apenas sociedades comerciais. Sim, cada um de nós depara-se com inúmeros custos de contexto na sua atividade habitual. E sim, está a ficar caríssimo viver em Portugal, é um luxo cada vez mais difícil de suportar. Sim, os cidadãos portugueses andam a viver acima das suas possibilidades, já que sustentam um Estado sem fim e sem emenda. Coisas de contexto portanto. Já agora, para avaliação da qualidade da nossa governação, veja-se o que já foi conseguido em termos de redução de custos de contexto – é uma deixa. Boas festas!

Há quem queira tudo

5 Dez

1) Há quem queira tudo. A Feira Popular voltou tímida a Lisboa, ao tradicional descampado de Entrecampos. Sim senhor, muito bem, mas queríamos isto maior, dizia um, e todo o ano, dizia outro, e como dantes, acrescentava um terceiro. Pois que todos gostaríamos de tudo isso. Mas como não podemos ter tudo em Lisboa, há que pelo menos apreciar um IMI mais baixo, um IVA que vai ser devolvido em parte às famílias alfacinhas e uma Derrama mais favorável para as empresas. Mas claro que o um o outro e o terceiro queriam era a Feira Popular o ano inteiro. E já agora que voltassem à Rotunda do Marquês de Pombal como era, com mais poluição e carros e percurso de porta a porta, ele que se calhar mora no Saldanha e trabalha nas Amoreiras. Mas ai Jesus se não pode levar o pópó e que chato é o António Costa que dificultou o trânsito no Marquês. Se calhar até convém que este um, outro e o terceiro soubessem que um relatório publicado este semana indica que Lisboa desceu na lista das cidades com melhor qualidade de vida exactamente por causa do excessivo congestionamento de trânsito.

2) Há quem queira tudo. Estávamos num centro comercial em Lisboa, à espera do elevador. Chegou, mas como ia a subir e nós queríamos descer, optámos por aguardar pelo próximo. Chegam duas senhoras e esbaforidas perdem o elevador por microssegundos. Uma delas queixa-se que hoje já ninguém se respeita nem espera pelos outros. Alguém sugere então que tomem as escadas rolantes. A que se queixou abre o casaco e mostra uma barriga redondinha, de poucos meses, num corpo bem torneado, e diz sarcástica: ‘É que eu estou grávida e tudo me custa’. Vivemos nos tempos em que tudo nos custa, queremos tudo, e em que gravidez é doença e incapacidade.

3)  São apenas dois exemplos do dia a dia, bem corriqueiros e comuns, do facilitismo que é mandar vir por tudo e por nada. Muitos de nós temos razão ao bater o pé ao assalto fiscal que nos aguarda. À maquilhagem da organização do trabalho, com cortes de feriados mas tolerâncias de ponto, com aumento das horas de trabalho do soldado raso sem perceber que é no topo que está o erro. Com cortes cegos a torto e a direito, sem estudar de forma sustentada. Com o atirar de barro à parede com várias propostas para a mesma questão para ver qual é que cola, o que só mostra que quem manda não sabe mesmo o que anda a fazer. Para evitar que nesta casa onde há cada vez menos pão todos ralhem sem razão, porque não movimentos de cidadãos independentes na Assembleia da República? A ideia pode não ser nova mas está aqui:

Movimento Independente para a Representatividade Eleitoral

Vamos a isso?

Mas afinal qual é o caminho?

28 Nov

Aprovado o Orçamento mais austero de que há memória, com um ‘aumento fortíssimo’ de impostos, mas com ‘ética na austeridade’, pegaremos nas calculadoras para rapidamente fazermos contas para daqui a um mês, mas também nos questionamos se tudo isto era mesmo necessário. De um lado temos aqueles que, envolvidos numa fé inabalável, dizem que sim, que não podia ser de outra forma, mas que são, uma e outra vez, desmentidos pelos resultados. Por outro temos aqueles que dizem que não, que há outro caminho, que basta de nos tentarem convencer que vivemos acima do que podíamos.

Sobre as nossas possibilidades e as nossas realidades, apenas duas notas. É verdade que houve quem aforrasse, vivesse de acordo com o que podia, sem grandes loucuras, com conta peso e medida. Até pode ter sido a maioria dos portugueses. Mas quando vemos duas reportagens com poucos dias de distância, uma sobre as promoções do Freeport (em que, ufanos, os entrevistados confessaram gastar 150 euros de cada vez que lá iam, o que presumimos seja mais que uma), outra sobre uma feira de casamentos (em que a casadoira parece não ter problemas em revelar que vai gastar 1500 euros num vestido), dá que pensar ‘safa, há quem mereça mesmo os apertos que tem que fazer’.

Quanto ao outro caminho, aquele que faria com que não tivéssemos que apertar o garrote até ficar quase sem pinga de sangue, quantas vezes o Partido Socialista tem repetido, até à exaustão, que tem outro caminho, uma alternativa? Mas, passado um ano e meio de governo passista, que alternativa é essa? Que caminho é esse? António José Seguro sabe explicar por A + B porque razão há que seguir esse trilho e não outro? Penso que falo por muitos quando também eu desejo outro caminho que não obrigue a este esbulho (como cortar ainda mais em salários pornográficos de 500 ou 600 euros?). Mas eu não sou economista, não sou político, não sou gestor, não fui chamado a governar ou a representar os portugueses. Espera-se que quem ocupa estas premissas tenha algo concreto para dizer e não apenas desejos, esperanças e manifestações de interesse. António José Seguro, qual é então o caminho alternativo? François Hollande também prometeu que o tinha mas parece que deu o dito pelo não dito e fez aprovar o que o próprio apelidou de ‘orçamento mais austero dos últimos 30 anos’. Afinal não tinha caminho? Ou foi obrigado por quem manda mais que ele a seguir pela austeridade pura e dura?

Ver o debate do Orçamento do Estado nos últimos dias foi de uma tristeza atroz. Insultos, birras, faltas de respeito e educação, insensibilidade, enfim, um degredo humano no palco da Assembleia da República. E é esta gente que, por uma lado, diz que este é o caminho e que não há outro, e que por outro propõe que haja outro trilho, mas não diz qual é porque não sabe ou não o tem?

 

É preciso ter lata

21 Nov

Cavaco Silva cada vez que fala brinda-nos com matéria prima suficiente para encher blogs de comentários e sátira. Então não é que desta vez, o presidente, tal qual um enviado da troika que acabou de aterrar na Portela e que esteve a ler uns relatórios sobre Portugal, se lembrou de dizer que os portugueses se esqueceram do mar, da agricultura e da indústria? Então onde é que andou este tempo todo? Não foi ministro das finanças? Não foi primeiro-ministro? Não foi líder de um dos maiores partidos políticos? Não é Presidente da República?

Mais vale tarde do que nunca e só não muda de ideias quem é burro, costuma dizer o povo, mas Cavaco leva os ditados populares ao ridículo. Fala como se todos fossem um bando de idiotas e incompetentes e ele a alta autoridade e dono da verdade absoluta. Ele que, em 10 anos como primeiro-ministro, com já 6 de Presidente da República e como o político com mais tempo em cargos de elevada responsabilidade desde o 25 de Abril, certamente não terá responsabilidade alguma.

Cavaco: portugueses esqueceram o mar, a agricultura e a indústria

Com um sorriso no fim do caminho

21 Nov

Numa época do bota-abaixo e do dizer mal por dizer (coisa tão lusitana, ou se calhar tão humana mesmo, sem fronteiras), gosto de me armar em advogado do Diabo e colocar-me do outro lado da barreira. Aliás é uma tendência de sempre, de educação ou de génio, a de me colocar na pele do outro.

Isto porque nos últimos dias entrevistei duas pessoas, uma deputada e um estudioso do Teatro, que me despertaram para mais uma dimensão (esta é a parte boa do jornalismo, a de nos levar a navegar por várias águas, a de fugir à agenda e à ditadura da notícia pura e dura, escola americana, serviço de telex).

Ora dizia-me a deputada, Anabela Freitas, que desde Segunda-feira está no parlamento em representação do distrito de Santarém, em substituição de João Galamba, que goza um mês de licença de paternidade, que reconhece que chegou a São Bento numa altura conturbada. Ainda está fresco na memória o lamentável episódio no largo em frente à Assembleia da República há uma semana, e quando se adivinham mais horas difíceis quando o Orçamento do Estado para 2013 for votado na Terça-feira. Mas mais que isso, e quando lhe perguntei porque é que achava que os políticos e o povo andavam de costas voltadas, Anabela Freitas começou por dizer que as pessoas andavam nervosas e com muita razão. Mas que também os políticos tinham culpa, e até mais que os portugueses, porque muitas vezes não sabem como chegar às populações, como descer dos gabinetes e como chegar às pessoas. Quem vem das estruturas locais, como é o caso da nova deputada, que é de Tomar, parece-me ter uma maior ligação ao povo, considera-se um deles, e não se isola na bolha dourada e marmórea que é um gabinete de um cargo de poder. A ver vamos se esta crise que é também ética e moral (ou sobretudo isso) não serve também para uma melhoria da relação eleitor/eleito (e escolho escrever eleitores e não portugueses porque sabemos que a disparidade numérica entre uns e outros, essa sim, é colossal).

Já Tiago Bartolomeu Costa, crítico de teatro, estudioso da área, enfim, especialista dos palcos (e não gosto da palavra especialista, que foi banalizada e já não distingue quem é de facto especialista em algo, o que é de facto o caso), que por estes dias é comissário de um debate no Teatro São Luiz sobre Cultura e Economia, reconhece também ele que quem exerce o poder está muitas vezes alheado da realidade, fechado na gaiola protectora do gabinete. No caso da Cultura, e foi isso que entrevistei Tiago Bartolomeu Costa, é preciso entender que não vai haver mais dinheiro, diz o visado, e que o que importa é seguir por um diálogo construtivo, de perceber onde podem ser aplicadas as verbas. Porque quem manda pode estar no alto da torre, até insensível a quem é mandado, mas se quando coloca o nariz de fora e pede opiniões e ajuda apenas se depara com protestos, bota-abaixo e exigências, sem alternativas ou soluções, a coisa é capaz de não correr bem (a última leitura é minha e não de Tiago Bartolomeu Costa).

Em resumo, não basta dizer o que está mal. Isso é fácil até para uma criança de oito anos. Sejamos construtivos. Em todos os momentos da vida. Em todas as situações do percurso. A União faz a Força, já diz o povo e muito bem, e o Povo Unido jamais será vencido.

Ou então…

 

De Angola com amor

19 Nov

Chama-se Álvaro Domingos e ainda não consegui perceber se é uma espécie de gato fedorento angolano ou se pretende ser um cronista sério. Uma verdadeira obra prima este artigo.

“Angola tem sido, sobretudo nos últimos dez anos, o baluarte da democracia e da liberdade na comunidade de países que falam a língua portuguesa. Num momento em que surgem visíveis sinais de violência sobre cidadãos indefesos, temos de cerrar fileiras e exigir que Portugal respeite os direitos humanos.
A polícia portuguesa devia vir a Luanda fazer uma formação com a nossa Política de Intervenção Rápida.”

Que fazer?

15 Nov

Já o disse aqui que para mim esta Greve Geral pouco ou nada me diz e a única boa notícia é que ela foi europeia. Sinceramente creio que todas estas acções, movimentos e manifestações, por muita legitimidade e força que tenham, pouco ou nada valem enquanto não houver uma alternativa política credível e forte. Não creio ser o único a pensar que todo este folclore militante está destinado à esterilidade. A malta entretém-se, vai a umas manifestações, escreve umas bordoadas no facebook, tem a ilusão de poder e no fim vamos a eleições e sabe-se como é. As coisas continuam como estão, a malta entretanto chateou-se com os egos ou com as desilusões e vai tratar da vidinha ou então pregar para outra freguesia.

Mais do que nunca importa hoje criar uma verdadeira alternativa política de poder. Juntar forças, juntar vozes e ideias. Importa juntar movimentos de cidadãos, grupos dispersos, independentes e todos aqueles que estejam dispostos a criar entendimentos. Importa trazer novas ideias e novas bandeiras à política. Importa reformar o sistema político, importa definir estratégias sectoriais ao país numa perspectiva de longo prazo. Importa combater de forma implacável a corrupção. Importa pensar no país e no mundo de forma sustentável tendo em conta que só haverá humanidade se houver planeta.

Só com uma verdadeira e credível alternativa política a concorrer a eleições é que se conseguirá alterar a relação de poderes em Portugal. Tudo o resto, por mais voltas que dermos pouco ou nada mudará.

Sobre a greve geral

14 Nov

Dizem os mais críticos que a greve é uma regalia de poucos. Que apenas quem tem emprego certo e para a vida é que se pode dar ao luxo de fazer greve. Todos os restantes: desempregados, precários, pequenos empresários, agricultores, assalariados-em-risco-de-serem-convidados-a-sair, etc, vão hoje trabalhar como em qualquer outro dia.

Talvez estes críticos tenham razão. De facto, não é qualquer um que pode fazer greve neste momento. Mais, quem se der ao trabalho de analisar as estatísticas, certamente chegará à conclusão que a greve tende a ser mais forte em locais onde os direitos dos trabalhadores estão mais garantidos. Faz sentido? Não muito de facto, mas são as coisas tal como elas são.

Duas pequenas notas sobre esta greve. Em primeiro lugar é importante realçar o carácter europeu deste protesto. Nunca se viu em tempo algum uma greve ter lugar ao mesmo tempo em vários países. Este aspecto é para mim o mais importante. Pouco se faz ou se pode fazer a nível nacional. É necessário que também na oposição haja uma procura de coordenação a nível europeu. Em segundo lugar, penso que a eficácia deste tipo de greves é quase nula. Tudo se resumirá a uma guerra de números ao final do dia entre a CGTP e o Governo. Os primeiros dirão 90% e os segundos dirão 20%. Como estaremos amanhã? Provavelmente na mesma.

Adenda: Cheguei a casa depois depois do jantar e só agora tive conhecimento dos desacatos em frente à Assembleia. Afinal parece que me enganei. Em vez de se andar a discutir números de adesão, a história desta greve se resumirá às provocações dos manifestantes e à carga policial. É lamentavel e não leva a lado nenhum.

Amadurecendo

14 Nov

Escrevo umas horas depois de Angela Merkel ter voltado para a Alemanha. Para além da espuma do dia, do folclore, dos discursos mais ou menos vazios do país dos Descobrimentos, ou mais ou menos iguais do nein mais tempo nein mais dinheiro, do relato ao minuto, do papão de ovos e outras coisas que tais, ficam algumas reflexões.

A preocupação real e que não deve ser negligenciada do apelo aos portugueses de considerarem a desobediência civil. Foi hoje no Largo de Camões em Lisboa, feito por pessoas aparentemente pacíficas, mas que pelos vistos já dizem abertamente que podem partir para agressão. Que não é mais que o recurso dos pobres de espírito. Eu percebo a revolta, todos percebemos. A angústia, a raiva até. Mas violência nunca. Nada de bom vem da guerra e da agressão. Chamem-nos de brandos costumes (uma grande treta histórica). Chamem-nos de patós. Chamem-nos de moles e de fracos. Mas um gesto de violência é prova de descontrolo e de falta de razão.

Quem me conhece e quem comigo convive todos os dias sabe que sou muito crítico de Passos Coelho, de Vítor Gaspar, da troika, da austeridade excessiva e de Angela Merkel. Não participei em nenhuma manifestação mas demonstro o que penso e como vejo as coisas e o mundo de várias formas. Chegado o dia de Merkel, que os gregos apelidaram de Dia da Raiva quando a chanceler alemã lá foi, um exagero mas que nós, no nosso canto apesar de tudo protegido não devemos julgar, vesti-me de negro. Chamaram-me radical, ridículo até. Conversei com algumas pessoas sobre a visita de Merkel e sobre como acho que a Alemanha nos anda a tratar. Reafirmei que Angela é demasiado intransigente, que a Alemanha nos está a castigar em demasia, e que acho que falta espírito de solidariedade aos alemães. Portugueses, e muitos outros povos, perdoaram à Alemanha as dívidas de Guerra, sentimento solidário que levo à construção da União Europeia, mas que Merkel parece esquecer. Houve quem me dissesse que se perdoámos o problema é nosso, não o tivéssemos feito e não venhamos agora reclamar a benesse em troca. Solidariedade? Só no Bairro do Amor, na Terra dos Sonhos, diria eu. Houve também quem me dissesse que não se pode comparar um país devastado pela Guerra com um país que escolheu fazer auto-estradas e estádios de futebol. Pois bem. Eu diria, se calhar de forma, exagerada, que a Alemanha também escolheu a guerra. E que a Polónia, a Grécia, a Hungria, a Roménia, a Itália, mas também Paris e Londres ficaram destruídas pela guerra.

Chegados aqui, deu-me para pensar: Merkel, devemos agradecer a quem nos está a emprestar dinheiro? Ou devemos questionar porque é que a quem perdoamos as dívidas da II Guerra não tem agora o mesmo gesto de solidariedade, uma das traves-mestras da União Europeia? E foi este o pensamento que dominou o meu dia. Respostas não tenho. Apenas que aprendi mais uma lição hoje, a de ‘desradicalizar-me’ e a de ‘pragmatizar-me’.

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Duas notas ainda, muito rápidas.

Isabel Jonet. Em tempos desesperados precisamos de heróis mas precisamos também de bruxas para queimar nas fogueiras e de criminosos para colocar na cruz. Isabel Jonet está a ser alvo de todas as acusações e campanhas difamatórias, algumas de mesmo muito mau gosto. Isabel Jonet disse coisas acertadas, mas num tom errado. Temos que repensar como vivemos sem dúvida. Mas viver com restrições não pode ser encarado como castigo que temos que pagar. Trata-se de uma consequência, até que possamos de novo, um dia, viver de novo em melhores condições. O facto de ter sido Isabel Jonet, uma dondoca que nunca teve nem terá que fazer contas à bolsa pessoal, e ainda bem para ela, é que levou a que muitos se indignassem. Mas não é pela bitola dos outros que nos devemos medir. Isabel Jonet sabe que há pobreza, sabe que há miséria em Portugal, e cada vez mais. Mas preferiu mudar o discurso do reaprender a viver. Claro que num tom de caridadezinha cristã, que aliás é o tom do Programa de Emergência Social do governo, mas esse sempre foi o tom de Isabel Jonet. Há que moderar a sensibilidade à flor da pele e retirar o que é bom de retirar, discernir o trigo do joio do que é dito.

Convenção do Bloco de Esquerda. É triste e lamentável ver gente do PS e do PSD no Facebook a gozarem com o BE. Uns dizem que não são um partido a sério e não são para ser levados a sério (esta atitude de condescendência já provou ser errada por várias vezes ao longo da História), outros dizem que a Convenção mostrou porque é que o consumo de produtos de higiene pessoal diminuiu em Portugal. Enfim, MRPP, meninos rabinos que pintam paredes? Eles ou os outros?