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The Goldman Sachs connection

20 Nov

Esqueçam a Maçonaria, esqueçam a Opus Dei, ser tecnocrata é o que está a dar no século XXI. E nem têm de dissimular o envolvimento com os grandes grupos financeiros, tudo se desenrola mesmo debaixo dos nossos narizes.

Por toda a Europa os governos sucumbem à pressão gerada pelos elevadíssimos juros das dívidas soberanas e são substituídos por governos liderados por tecnocratas ou por simpatizantes, governos-fantoche de direita que respondem com uma vénia profunda e passadeira vermelha a todas as exigências económicas impostas por uma coligação franco-germânica.

Mas os mercados continuam ávidos por sangue, e agora que as pequenas manipulações deram frutos há que testar o poder adquirido com o ‘peixe graúdo’. A França, que até agora desempenhava o papel de professor exigente humilhando os maus alunos pelas suas más prestações, começa a sofrer as consequências da desregulamentação e falta de fiscalização dos mercados financeiros. Hasteiem a bandeira branca bem alto, rendam-se de uma vez por todas às evidências: fomos manipulados.

Um novo tipo de ditadura instalou-se na Europa. Os novos governos da Grécia e Itália são disso exemplo, ambos assumidamente tecnocratas, ambos no poder sem eleições. Incompetente ou não, Berlusconi ocupava o cargo de presidente do Conselho de Ministros por vontade expressa do povo, e essa liberdade de escolha faz parte dos direitos fundamentais dos cidadãos de qualquer estado de direito.

O sinal mais alarmante é que os mesmos que começam agora a ocupar os mais altos cargos políticos nos países europeus, sem eleições, encontram-se associados a uma das maiores instituições financeiras do mundo, um gigante da banca e um renomeado conselheiro financeiro de governos, a Goldman Sachs. Dir-se-ia que misturar poder político e um grande banco de investimento no mesmo saco seria potencialmente tóxico para o futuro da Europa, mas é esta a realidade. Cumpre-se o projecto Goldman Sachs, o domínio total sobre a Europa, tanto financeiro como político.

Vejamos alguns exemplos:

Mario Monti, sucessor de Berlusconi, tomou as rédeas do país com um governo de tecnocratas. Monti, aliás, referiu que a ‘ausência de políticos do Executivo, era uma forma de facilitar o trabalho governamental’. Monti é consultor sénior no Goldman Sachs.

Lucas Papademus, o actual primeiro ministro grego, foi governador do Banco da Grécia entre 1994 e 2002, precisamente na mesma altura a Goldman Sachs foi acusada de sistematicamente ajudar o Governo Grego a falsificar os dados da verdadeira dimensão da dívida grega (1998-2009).

O Banco Central Europeu apontado como tendo um papel fundamental na resolução da crise da dívida soberana europeia é gerido por Mario Draghi, sucessor de Jean-Claude Trichet. Draghi foi vice-presidente, director executivo da Goldman Sachs e membro da comissão de gestão na empresa entre 2002 e 2005.

Em 2010, António Borges foi nomeado Director do Departamento Europeu do FMI, cargo do qual se demitiu recentemente alegando problemas pessoais. De 1990 e 1993 representou funções de vice-governador do Banco de Portugal. E entre 2000 e 2008 foi vice-presidente do Concelho de Administração do banco Goldman Sachs International, em Londres. Mas para Borges este acumular de experiências pode revelar-se benéfico num futuro próximo. Imagine-se um governo cada vez mais fragilizado perante as flutuações das taxas de juro e pressões dos mercados financeiros, uma oposição que não desempenha verdadeiramente o seu papel e cria-se o cenário perfeito para que seja um homem forte da banca a assumir o papel do próximo primeiro ministro de Portugal.